17 dezembro 2011

Contínua Obsessão


(para rafael direto do submundo)


Em meio a cervejas, bundas e suas próprias nádegas (que o incomodavam), passava os olhos analisando o ambiente em camadas desde o fundo à mesa mais aproximada. Estava um pouco magro ultimamente e cadeira de boteco - sempre madeira - não combina com bundas magras. Nada encontrou naquele momento, nenhuma presa a ser devorada. Volta a concentrar-se na batalha final à moda romana. Até então nada de sangue. Muito estudo de ambas as partes quando do nada surge um ataque fulminante pela direita - um lance rápido, numa lapada. Golpe no rim e em seqüência um soco certeiro no rosto do adversário de pele branca quase amarelada. Agora sim a luta tornara-se interessante. Mais ainda pelo corte no supercílio e daquele escorrido numa cor quase vinho, pouco avermelhada.

O fluido vital lhe cativava...

Não tinha relação alguma com gosto pela violência ou traumas passados. Era algo que lhe excitava de maneira diferenciada. Gostava de cores quentes em tudo, até o vermelho arrebol em uma tarde ensolarada.
Sangue esvaindo, luta acirrada quando um corpo esbelto, moldado pela camisa do seu time que, diga-se de passagem, também possuía a sua cor amada, adentra o coliseu repleto de massa humana agora distraída pela gostosa rebolada. Seu rosto ruborizado, de imediato, imagina possuí-la. Mistura de carnes, sexo animal, selvagem como uma presa que acabou de ser caçada. No momento certo aborda a vítima e resumindo todo o processo sigamos direto e reto à sala do apartamento e à insólita trepada.
Tudo excelente. Despem-se velozes numa energia agitada e como um vampiro experiente, no ventre, mete a boca escancarada. Leva um susto.
- Preciso dizer-lhe: acho que estás menstruada!
- Como?! Não estou não!
- Mas tem sangue na minha cara lavada!
Olha pro lado, corre, procura o espelho da sala que por coincidência tinha uma moldura bordô meio enferrujada.
- Meu Deus! Vem de mim, do meu nariz, provavelmente de uma artéria estourada!
Até então nunca havia visto seu próprio sangue, brocha feliz, rapidamente veste-se e volta pra casa. Foi curtir seu nariz - sua nova obsessão - que lhe proporcionara a sua cor mais desejada.

Em meio a cervejas e bundas o nariz agora lhe cativava...

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