15 dezembro 2011

Oscar, Um Homem De Bem




1907. Ano em que nasce, se não o maior, um dos maiores arquitetos do Brasil. Controvérsias e discussões à parte, Oscar Niemeyer teve um papel fundamental na consolidação da arquitetura moderna brasileira no mundo. Em todos os sentidos. Questionou, discutiu, inventou, produziu, construiu e, principalmente imprimiu um estilo próprio de se fazer arquitetura.
Casa-se com Anita Baldo em 1928. Até então tinha vida boêmia e despreocupada. O casamento lhe trouxe responsabilidades que o obrigava a assumir uma nova postura de vida. Sorte a nossa! Decide, então, entrar para a Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro aos 22 anos de idade.
Com o diploma de engenheiro arquiteto começa a trabalhar de graça no escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão. Sempre questionador não se adaptou aos moldes da arquitetura comercial vigente. Procurava respostas as suas mais profundas inquietações de jovem. Participa da equipe para elaboração do projeto do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro e conhece Gustavo Capanema e Le Corbusier. O discurso empolgante e inovador do pai do modernismo preenche suas ansiedades por algo novo, revolucionário. Neste projeto adquire os princípios básicos do movimento moderno. Contudo, não os assume de maneira ortodoxa.
Projeta a obra do berço em 1937, um de seus primeiros trabalhos e em 1939 viaja para Nova Iorque para projetar o Pavilhão de Exposições do Brasil na Feira Mundial. Esta fase foi marcada pela descoberta, definições de caminhos e partidos de conduta profissional.
Conhece em 1940, Juscelino Kubitschek que o convida a projetar o Conjunto da Pampulha. Mexe profundamente com as vaidades e preconceitos dos profissionais e da sociedade da época. Com as curvas da Igreja da Pampulha, das curvas mais variadas, contesta a arquitetura retilínea predominante. Curvas que o acompanharão por toda a sua vida. Suas preocupações plástico-expressivas sempre foram preponderantes.  
“Eu fiz a marquise da casa do baile em curva, que às vezes explicava, dizendo para melhor me fazer entendido, que elas seguiam as curvas da ilha, mas na verdade era o elemento plástico da curva que me interessava”.
Como todo bom modernista, ingressa no Partido Comunista Brasileiro em 1945, fim da segunda grande guerra. Tal decisão lhe trouxe alguns incômodos como o cancelamento de seu visto de entrada nos EUA em 46. Finalmente consegue adentrar-se na “América” para plantar sua primeira semente no solo do mundo. Convidado por Le Corbusier para participar do projeto da sede das Nações Unidas deixa mais que sua marca. Deixa o projeto “com a sua cara”.  Pois é... O mestre “Corbu” percebeu, já no primeiro encontro no Rio a genialidade latente do jovem Oscar e o traz para perto de si para absorver algo do discípulo não declarado.
Em 1955, viaja à Europa para participar do projeto de reconstrução de Berlim envolvendo-se com questões urbanísticas que mais tarde culminariam com a construção de Brasília. Projetar uma cidade não era sua especialidade e além do mais onde está mais presente a plástica, na cidade ou na arquitetura? Retribui com prazer a ajuda dada por Lúcio Costa incentivando-o a participar do concurso para a nova Capital que para nossa sorte foi o melhor e o “escolhido”.
Neste período muito produz dentro e fora do Brasil. Projeta os principais edifícios da Capital com muito gosto e também sua bela residência na Estrada de Canoas no Rio de Janeiro. Fica conhecido mundialmente fazendo uso ostensivo das estruturas em concreto armado em formas curvas ou em casca. Explorou inéditas possibilidades estéticas da linha reta que se traduziram em fábricas, arranha-céus, espaços para exposições, residências, teatros, templos, edifícios-sede de empresas dos setores público e privado, universidades, clubes, hospitais e equipamentos para diversos programas sociais.
Com o golpe de 64 seus projetos pouco a pouco vão sendo recusados e decide instalar-se em Paris. Continua sempre projetando e “espalhando” sua arquitetura pelo mundo.
Retorna ao Brasil no final da década de 70 engajando-se em movimentos democráticos. Em 1985 volta a desenvolver projetos para Brasília.
Em 1987/88, recebe o Premio Pritzker de Arquitetura dos Estados Unidos. Sua trajetória é consagrada com este importante prêmio nunca recebido por uma personalidade brasileira tanto nas artes e muito menos na arquitetura.
O mundo nessa década passa por inúmeras transformações.  A guerra fria vai chegando ao fim com o colapso da economia soviética. Os subprodutos da industrialização recrudescem sua presença na vida das sociedades contemporâneas. O mundo vai se tornando globalizado em todos os sentidos. Explode o intercâmbio de informações, de tecnologia e também dos problemas graves que afetam todo o planeta tais como superaquecimento global, a forte degradação do meio ambiente, dentre outros.
Tudo isto não afeta nem transforma a maneira pela qual Oscar faz sua arquitetura. Daí provém uma de suas maiores críticas. Segue sem olhar ao seu derredor. Continua modernista de carteirinha. Se já tinha fraquezas nas questões funcionais agora acrescentou outra em seu extenso currículo: conforto ambiental. Todos conhecemos sua paixão pelo concreto e de como tem carinho pela “relação seca” do edifício com o seu entorno paisagístico. Pois é... Continua assim projetando sem se importar com a falta de água ou de como é imprescindível a vegetação.
Fato. Não poderia deixar de dizer embora nada deprecie seu valor profissional, sua extensa carreira e produção. Servirá como mais uma grande lição que o gênio nos deixa. Coisa de gênio! Paradoxal como sempre!
Difícil parar de falar desta incomum figura brasileira, até por que ainda continua vivo e com somente 104 anos de idade. Tantos projetos, tantos assuntos, tantas polêmicas, tantas mulheres, tanto que nos deu. Não existe limite para este homem; não existe limite nas curvas do Brasil. E que curvas são essas Oscar que não param de nascer?  Vem do povo sofrido que se mexe, desvia, balança mas não cai e que tanto influencia seu trabalho. Mulher que samba que é bela que norteou sua vida e sua plástica arquitetural. Da natureza exuberante digna da terra de Deus. Deus é brasileiro e o Oscar também. Que bom! Graças a Deus! Na sua generosidade soube como ninguém retratar a nossa gente. O jeitinho diferente do brasileiro está no seu sangue. Não aquele do proveito e vantagens próprios. Aquele da cordialidade, da facilidade de conviver com as dificuldades do dia-a-dia e, sobretudo, da facilidade de embelezar a vida tornando-a, para nós mortais, mais prazerosa de se viver.
Pelo Bem que nos proporcionou, obrigado Oscar!


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