1907. Ano em que nasce,
se não o maior, um dos maiores arquitetos do Brasil. Controvérsias e discussões
à parte, Oscar Niemeyer teve um papel fundamental na consolidação da
arquitetura moderna brasileira no mundo. Em todos os sentidos. Questionou,
discutiu, inventou, produziu, construiu e, principalmente imprimiu um estilo
próprio de se fazer arquitetura.
Casa-se com Anita Baldo
em 1928. Até então tinha vida boêmia e despreocupada. O casamento lhe trouxe
responsabilidades que o obrigava a assumir uma nova postura de vida. Sorte a
nossa! Decide, então, entrar para a Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro aos
22 anos de idade.
Com o diploma de
engenheiro arquiteto começa a trabalhar de graça no escritório de Lúcio Costa e
Carlos Leão. Sempre questionador não se adaptou aos moldes da arquitetura
comercial vigente. Procurava respostas as suas mais profundas inquietações de
jovem. Participa da equipe para elaboração do projeto do Ministério da Educação
e Saúde no Rio de Janeiro e conhece Gustavo Capanema e Le Corbusier. O discurso
empolgante e inovador do pai do modernismo preenche suas ansiedades por algo
novo, revolucionário. Neste projeto adquire os princípios básicos do movimento
moderno. Contudo, não os assume de maneira ortodoxa.
Projeta a obra do berço
em 1937, um de seus primeiros trabalhos e em 1939 viaja para Nova Iorque para
projetar o Pavilhão de Exposições do Brasil na Feira Mundial. Esta fase foi
marcada pela descoberta, definições de caminhos e partidos de conduta
profissional.
Conhece em 1940,
Juscelino Kubitschek que o convida a projetar o Conjunto da Pampulha. Mexe
profundamente com as vaidades e preconceitos dos profissionais e da sociedade
da época. Com as curvas da Igreja da Pampulha, das curvas mais variadas,
contesta a arquitetura retilínea predominante. Curvas que o acompanharão por
toda a sua vida. Suas preocupações plástico-expressivas sempre foram
preponderantes.
“Eu
fiz a marquise da casa do baile em curva, que às vezes explicava, dizendo para
melhor me fazer entendido, que elas seguiam as curvas da ilha, mas na verdade
era o elemento plástico da curva que me interessava”.
Como todo bom
modernista, ingressa no Partido Comunista Brasileiro em 1945, fim da segunda
grande guerra. Tal decisão lhe trouxe alguns incômodos como o cancelamento de
seu visto de entrada nos EUA em 46. Finalmente consegue adentrar-se na
“América” para plantar sua primeira semente no solo do mundo. Convidado por Le
Corbusier para participar do projeto da sede das Nações Unidas deixa mais que sua
marca. Deixa o projeto “com a sua cara”.
Pois é... O mestre “Corbu” percebeu, já no primeiro encontro no Rio a
genialidade latente do jovem Oscar e o traz para perto de si para absorver algo
do discípulo não declarado.
Em 1955, viaja à Europa
para participar do projeto de reconstrução de Berlim envolvendo-se com questões
urbanísticas que mais tarde culminariam com a construção de Brasília. Projetar
uma cidade não era sua especialidade e além do mais onde está mais presente a
plástica, na cidade ou na arquitetura? Retribui com prazer a ajuda dada por
Lúcio Costa incentivando-o a participar do concurso para a nova Capital que
para nossa sorte foi o melhor e o “escolhido”.
Neste período muito
produz dentro e fora do Brasil. Projeta os principais edifícios da Capital com
muito gosto e também sua bela residência na Estrada de Canoas no Rio de Janeiro.
Fica conhecido mundialmente fazendo uso ostensivo das estruturas em concreto
armado em formas curvas ou em casca. Explorou inéditas possibilidades estéticas
da linha reta que se traduziram em fábricas, arranha-céus, espaços para
exposições, residências, teatros, templos, edifícios-sede de empresas dos
setores público e privado, universidades, clubes, hospitais e equipamentos para
diversos programas sociais.
Com o golpe de 64 seus
projetos pouco a pouco vão sendo recusados e decide instalar-se em Paris.
Continua sempre projetando e “espalhando” sua arquitetura pelo mundo.
Retorna ao Brasil no
final da década de 70 engajando-se em movimentos democráticos. Em 1985 volta a
desenvolver projetos para Brasília.
Em 1987/88, recebe o
Premio Pritzker de Arquitetura dos Estados Unidos. Sua trajetória é consagrada
com este importante prêmio nunca recebido por uma personalidade brasileira
tanto nas artes e muito menos na arquitetura.
O mundo nessa década passa
por inúmeras transformações. A guerra fria vai chegando ao fim com o colapso da
economia soviética. Os subprodutos da industrialização recrudescem sua presença
na vida das sociedades contemporâneas. O mundo vai se tornando globalizado em
todos os sentidos. Explode o intercâmbio de informações, de tecnologia e também
dos problemas graves que afetam todo o planeta tais como superaquecimento global,
a forte degradação do meio ambiente, dentre outros.
Tudo isto não afeta nem transforma
a maneira pela qual Oscar faz sua arquitetura. Daí provém uma de suas maiores
críticas. Segue sem olhar ao seu derredor. Continua modernista de carteirinha. Se
já tinha fraquezas nas questões funcionais agora acrescentou outra em seu extenso
currículo: conforto ambiental. Todos conhecemos sua paixão pelo concreto e de
como tem carinho pela “relação seca” do edifício com o seu entorno
paisagístico. Pois é... Continua assim projetando sem se importar com a falta
de água ou de como é imprescindível a vegetação.
Fato. Não poderia deixar
de dizer embora nada deprecie seu valor profissional, sua extensa carreira e produção.
Servirá como mais uma grande lição que o gênio nos deixa. Coisa de gênio! Paradoxal
como sempre!
Difícil parar de falar
desta incomum figura brasileira, até por que ainda continua vivo e com somente 104
anos de idade. Tantos projetos, tantos assuntos, tantas polêmicas, tantas
mulheres, tanto que nos deu. Não existe limite para este homem; não existe limite nas curvas do Brasil. E
que curvas são essas Oscar que não param de nascer? Vem do povo sofrido que se mexe, desvia,
balança mas não cai e que tanto influencia seu trabalho. Mulher que samba que é
bela que norteou sua vida e sua plástica arquitetural. Da natureza exuberante
digna da terra de Deus. Deus é brasileiro e o Oscar também. Que bom! Graças a
Deus! Na sua generosidade soube como ninguém retratar a nossa gente. O jeitinho
diferente do brasileiro está no seu sangue. Não aquele do proveito e vantagens
próprios. Aquele da cordialidade, da facilidade de conviver com as dificuldades
do dia-a-dia e, sobretudo, da facilidade de embelezar a vida tornando-a, para
nós mortais, mais prazerosa de se viver.
Pelo Bem que nos
proporcionou, obrigado Oscar!
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