25 setembro 2011

apocalipse you now

com seus dedos e unhas afiadas
abre e descasca uma lasca do fim que chegou.
caminha até a porta seguindo sua estrada
um pé sob a lama leva o corpo em cadência velada
secando seu sangue que há muito o alimentou.

da natureza ao redor, ficou o lodo.
de todas as aves permaneceu o corvo
que observa aquele corpo de quatro
adiando sua entrada mais uma vez ao fogo.

atrás da porta a dor o enrosca
e prova os medos daquele tipo tosco.
sem demora sai fora a dor
tal repúdio lhe causou aquele encosto.

segue...
com seu rosto restante
enfia a cabeça pelo pescoço
vê suas entranhas,
prova de si mesmo e reprova seu gosto.
nem amargo, nem doce.
sem sal, mal passada.
carne nua, velha, des-gosto.

adentra reverso.
de costas acena aos temores que tinha.
prepara sua partida, inicia com fé abalada
o encontro com ervas daninhas.
ao seu lado encontra-se cega uma espada.
sem peso avança
e com seus dentes faz-lhe afiada.
capina, corta
mas toca a seiva envenenada.
sem perceber, definha.


com quase nada,
no escuro negro resta a espada
chance única e rara de dar cabo ao que foi.
arrasta seu resto ao topo de uma escada
e ágil num golpe frágil parte seu corpo em dois.
pedaços rolam e uma energia agitada
sai, se acumula, se esvai pra explodir logo depois.


vazios de luz, cheios de espaço 
é o que indica o universo escasso
do que era um e agora nem dois.

Um comentário:

  1. Pesado, hein seu Chico? Achei algumas imagens fantásticas. O rosto restante pescoço a dentro, o provar de si próprio e reprovar o seu gosto... e as duas partes que não formam dois!

    ResponderExcluir