09 março 2014

zeitgeist













organizo minha agenda,
meus compromissos, os horários...
ao mesmo instante que minto
o prazer da ordem do dia,
do correr correto do cronograma,
meu cérebro engendra:

o que dizer do outro espectro da vida
que pelo meu corpo inteiro derrama?
minhas células estão em avatar
e meu organismo aos poucos,
paulatinamente, reclama.

que plano absurdo é esse da velocidade
do rápido sistema de coisas e imposições,
corporações versus dalai lama?!

sinto que sou levado com dificuldade
à uma crua e nua realidade: 
nada fazemos com o tempo que temos
e a morte que encontra o mote, invade.

09 outubro 2013

all that you can leave behind

  para alex 












deixei de ser presente...
momentos sãos que, de repente, tornaram-se vãos.
delinquente repito o acidente:
viver disperso no que era antes verdadeiro padrão.

deixei de ser onipotente...
vi mas não venci,
vim saber o fato antemão.

de nada adiantou...
sou quem fui
não sei quem sou,

o que é hoje na luz,
foi segundos atrás, escuridão.

20 abril 2013

auto retrato_1














sou poeta fajuto
que sem nenhum puto
não me dou conta de mim.

sou inventor de possibilidades
que mais cedo ou mais tarde
salta de banda da sala ao jardim.

quem me conhece não me sabe
quando entra não me invade
quando sai, se fica sem fim.

é assim que o meu mundo se abre
de chuva, me apanho à tarde
madrugada me perco doidim.

sou poeta matuto
porque nada ecôo de ruim.
falo de sonhos que ardem
que explodem covardes
sem fogo nem estopim.
espalho desejos roubados
que de noite em céu azulado
cisalham meu lanternim.

ao amor nunca me travo
e da dor, falo dela sim!
resvalo para pintá-la a cor
tento dela ser professor
pra num segundo
[sem tirar nem por]
clonar de volta o amor
tim tim por tim tim.

eu ando a me observar,
permito o plural da delicadeza.
sinto o fluir das ondas do mar
pretendo o gostar da mistureza.

é como no ar um sapato girar
é como berrar na natureza.
é como sorrir sem dentes mostrar
é como doar-se sem avareza.

é a lógica infalível do olhar
é a mulher e sua bela beleza.

falta alguma coisa brotar
falta um cocar de miudezas.
falta um pouco de tudo rifar
falta drummond e suas pedras, dureza.

falta o concreto ferreira gular
falta-me enorme clareza.
falta apenas seu chico calar
falta-me imensa destreza.

falta esse poema acabar:
assim me mostrarei astuto.

acima ditei, não custa lembrar
não sou poeta a rolar
sou apenas... poeta fajuto!

12 março 2013

a penny for your thoughts



















[de um estranho no ninho]

fineza da observação:
sério é seu traço
fino trato da imaginação.

leve é a sua intenção
tracejar de um ideal
seriedade em contramão.

olhar que transpassa,
de graça chega terno
mas sério na penetração.

o que se mostra sério
promove adultério na compreensão.
?como pode a seriedade explicar o viver etéreo
se maior é o mistério da explicação.

26 fevereiro 2013

trinta e nove mil pés














altitude [atitude]
vôo de cruzeiro...
não se vê mais o próprio corpo
mas uma cidade por inteiro.
movimento sagaz onde se escolhe o nobre
o cobre não vale mais
apenas o ouro de um mineiro.

céu de formatos anis
sideral espaço conquistado em primeiro.
muito se fez pra chegar tão alto
merecida escolha
momento derradeiro.

capacidade de abortar o que achava correto
servir ao que era incerto
que do nada mostrou-se certeiro.
natural andar que de aprisionado impôs-se de lado
ou melhor dizendo:
de fato, corriqueiro.

no ar eternamente não há de ficar
há que se encontrar um lugar
espaço ideal para um pouso ligeiro.
se nesse pousar encontrar um hangar [estaleiro]
deve o ar que passou o passado deixar
sobre um rio navegar seu nobre veleiro.

07 fevereiro 2013

a sustentável lavagem do ser

vidros, transparência protegida de quê?
gotas escorridas de uma miragem pervertida
sexo virtual explícito em noite traída.

seguem as gotas seu caminho de transformar
a visão em algo estranho [imagem distorcida]
sentido enganado de si mesmo,
medo
covardia racionalmente concebida.

pede e concebe vaga-lume de led
transfere a mensagem escondida nas minhas mãos
escreve a linguagem desconhecida!

quem sabe expor aos céus a ferida
idiotamente camuflada e hipocritamente comedida.

faça-se lógico tudo, rapidamente objetiva a vida.
transparentes vidros, para quê
se a sensibilidade não é permitida...


21 outubro 2012

E Se Todos Vivêssemos Juntos / Os Intocáveis ***














Dois filmes leves e que agradam. Crise européia? Interesse nos recursos? Hiberna o urso feroz do cinema francês? Cansaço do fiasco do mundo e de sua odisséia? Já de um tempo pra cá estamos vendo uma guinada interessante em uma parcela do cinema francês. Filmes mais lights pra agradar geral e talvez com foco maior na “obesidade americana” acostumada a um padrão de consumo cultural longe dos vinhos franceses. Lembro de uma passagem do filme Le Nom Des Gens (legal, recomendo) que vi no início do ano, em que o protagonista em determinado momento, em frente à TV, diz que os franceses já estavam cansados de ver denúncias de abusos infantis, restos da 2ª guerra, blá blá blá. Me parece que é por aí que vai a coisa agora. O cinema franco (ês), curto, grosso e direto perde peso para lutar em outra categoria. Vejam também Minhas Tardes Com Margueritte. Não vou entrar no mérito da questão. O que interessa é que ganhamos opções ao comum vendido como bom do cinema americano com seus padrões de vida ditos como possíveis. O que vi nos dois filmes foi o caminho inverso. Situações da vida real sendo tratadas de forma mais polida. Prefiro assim. Mais próximo do que vivemos na rotina diária e de sua conjuntura do politicamente correto. Tá tudo bem e nada mal... A amizade como foco. Entendimento de que a tolerância e a aceitação das diferenças encaminham as coisas. É a tolerância que se praticada pode levar à fraternidade. É o abraçar das loucuras e manias individuais. Consideração pelo outro e de sua peculiaridade, pois vem desses valores a essência do amor. Nada é fácil. Vejam que vale a pena!

Classificação/Legenda
 (sujeita a alterações):
    *        encare se for capaz. [cara, tá foda!]
   * *       então tá... [oops...]
  * * *     se rolar, valeu! [passatempo...]
 * * * *    vale a pena! [massa, sô!]
* * * * *   corra e não perca! [du caralho!]
(*) estrelas entre parênteses, favor acrescentar:
      "E tá de bom tamanho!"