sou poeta fajuto
que sem nenhum puto
não me dou conta de mim.
sou inventor de possibilidades
que mais cedo ou mais tarde
salta de banda da sala ao jardim.
quem me conhece não me sabe
quando entra não me invade
quando sai, se fica sem fim.
é assim que o meu mundo se abre
de chuva, me apanho à tarde
madrugada me perco doidim.
sou poeta matuto
porque nada ecôo de ruim.
falo de sonhos que ardem
que explodem covardes
sem fogo nem estopim.
espalho desejos roubados
que de noite em céu azulado
cisalham meu lanternim.
ao amor nunca me travo
e da dor, falo dela sim!
resvalo para pintá-la a cor
tento dela ser professor
pra num segundo
[sem tirar nem por]
clonar de volta o amor
tim tim por tim tim.
eu ando a me observar,
permito o plural da delicadeza.
sinto o fluir das ondas do mar
pretendo o gostar da mistureza.
é como no ar um sapato girar
é como berrar na natureza.
é como sorrir sem dentes mostrar
é como doar-se sem avareza.
é a lógica infalível do olhar
é a mulher e sua bela beleza.
falta alguma coisa brotar
falta um cocar de miudezas.
falta um pouco de tudo rifar
falta drummond e suas pedras, dureza.
falta o concreto ferreira gular
falta-me enorme clareza.
falta apenas seu chico calar
falta-me imensa destreza.
falta esse poema acabar:
assim me mostrarei astuto.
acima ditei, não custa lembrar
não sou poeta a rolar
sou
apenas... poeta fajuto!