23 janeiro 2012

Dogville (2003, 177 min, Lars Von Trier) *****



Pois então, há alguns dias assisti um filme chamado Dogville (2003, 177 min) do diretor Lars Von Trier. Sei lá porquê mas senti vontade de conversar, debater sobre o filme, devaneios sobre a vida e suas situações. Faço então virtualmente esse desejo, porque somente cada um sabe o que pensa, sente, faz e está vivendo. Como diz o Paulinho Moska: ninguém me sente, somente eu posso saber o que me faz feliz. Então, fui sozinho (difícil companhia pra esse “cinema” ainda mais em janeiro nesta cidade) ao cine Brasília (que estava gelado - tinha saído do banho...) e estava meio agitado por conta da hora, já que lá as sessões começam pontualmente. É com a Nicole Kidman, Lauren Bacall e uma porrada de gente boa atuando. A cidade é imaginária pra nós expectadores o que, como arquiteto, me deixou apaixonado pela possibilidade de criar em minha mente a cidadezinha americana pobre, conservadora, tosca do início do século XX. Começa leve e exige da gente um pouco de paciência para se habituar àquela situação. Tudo me envolveu! A trama da vida e a tentativa pura e inocente de uma mulher em transformar a vida e as pessoas se entregando às suas idiossincrasias e vicissitudes. Meu Deus, a coisa vai andando lentamente, te pegando aos poucos e de repente lá estava eu dentro daquela cidade ao lado daquela mulher e de seus habitantes, loucos como todos nós – monstros controlados pela nossa razão/consciência. Será mesmo?! Será que tudo não depende do lado assumido? Será que existe certo ou errado ou situações que nos colocam em posturas distintas? Fiquei incomodadíssimo com a possibilidade da perda da liberdade! Isso acontece porque não adianta boas e puras atitudes junto aos homens; nem eles, nem nós sabemos lidar com essa possibilidade. Não evoluímos o suficiente para saber o que realmente é a liberdade. Eu falo em um de meus poemas que só existe liberdade no pensamento... Uma vez, vi naqueles programas de televisão para a dona de casa matutina, uma pessoa falando da personalidade das pessoas de acordo com a forma que dormiam, ou seja, suas posições soníferas (esses termos e locuções verbais são minhas, tá?! rss). Tenho mania de dormir com meus pés, quando posso e desejo, fora da cama. Deito um pouco mais pra baixo e pronto! A tal mulher disse que eram pessoas que tinham a liberdade como essência da vida; difícil suportar algo que lhes prenda ou lhes tolha a liberdade. Isso se sublimava pela arte, pela criação. Pronto, foi a partir daí que virei fã da Ana Maria Braga/Brega (mentira!)... Bem, mas voltando ao mundo cão, a situação vivida pela protagonista me agoniou demais. Me deu um pouco de medo da vida, do ser humano. Veio a dúvida desse sistema o qual somos submetidos e que aos poucos, de certa forma, vai tirando nossa liberdade, nos impondo goela abaixo a falsa liberdade total! Sei lá, fiquei ansioso pela “aceitação” daquela mulher que ficou refém e obrigada a acreditar num amor como a única forma de libertação, mas na verdade a aprisionava e a subjugava a cada instante. O filme é de certa forma simples em sua mensagem. O final “explica” de forma bem didática a intenção do diretor. Achei bom sim, não estragou a trama. Acho que foi até alentador (no meu caso) já que estava roendo unhas e olhando as horas... Afinal o que é certo e errado e o que sabemos e assumimos como postura de nossa essência? Será que bondade apenas salva nós humanos cachorros? E o uso que fazemos de tudo e das pessoas por algum motivo, e mesmo sem a consciência do fato e da razão? Meu discurso aqui não tem nada de moral. Cada um tem seus valores, isso é fato e assim deve ser. É um questionamento maior sobre a humanidade e suas questões. É a retórica, é a dialética que pode nos tornar menos cães. O final como disse mata a charada da história, mas deixa a dúvida, a incerteza ou a não resposta à grande questão. Ao sair da sala, vi pessoas contando que choraram, outras agoniadas e meio perplexas com tudo. Que bom! Senti-me de certa forma confortado e fui direto ao banheiro pra aliviar minha bexiga e me sentir menos cabeça e mais animal. Animal aqui significa um ser que não usa a razão para subjugar outrem. Não tem razão... Nasce, mata, vive e morre. Cumpre seu papel ancestral e natural de viver sem a maldade homo sapiana. Fui mais leve ao carro e voltei pra casa. Estava com tanta adrenalina acumulada que minhas mãos tremiam. Não estava nervoso, nem ansioso. Era o corpo convivendo com aquela enxurrada de ansiedade absorvida. Fui pra balada e com a cara embebedada, voltei pra casa esquecido daquela experiência tão inusitada! É isso. Tem mais?! Sempre tem. É o cinema, a arte, minha droga preferida pra transformação desse monstro aqui em alguma coisa. Não sei bem o que é mas alguma coisa que possa ser um pouquinho melhor do que era eu antes a segundos atrás! Não percam! Vale muito!

Obs.: São resenhas conceituais! Degusta lá!
Classificação (sujeita a alterações):
    *        encare se for capaz.  [cara, tá foda!]
   * *       então tá...  [oops...]
  * * *      se rolar, valeu!  [passatempo...]
 * * * *     vale a pena!  [massa, sô!]
* * * * *    corra e não perca!  [du caralho!]
( * ) estrelas entre parênteses, favor acrescentar: 
      "e tá de bom tamanho!"

Um comentário: